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terça-feira, 15 de junho de 2010

AUTO DA BARCA DO INFERNO

ÍNDICE
ABI (01...): 01AUTO DA BARCA DO INFERNO <;> 05APLICAÇÕES-1 (RECAPITULAÇÃO) 06APLICAÇÕES-2 <;> 07APLICAÇÕES-3 (PREPARAÇÃO DO ARRAIS DO INFERNO) <;> 08APLICAÇÕES-4 (CENA 1-O FIDALGO-1., 2.) <:> 09APLICAÇÕES-5 (CENA 1-O FIDALGO-3., 4.) <;> 10APLICAÇÕES-5 (CENA 1-O FIDALGO-5.) <;> 11APLICAÇÕES-6 (CENA 1-O FIDALGO-7.) <;> 12APLICAÇÕES-6.1 (CENA 1-O FIDALGO-8.) <;> 13APLICAÇÕES-6.2 (CENA 1-O FIDALGO-9.) <;> 04Cena I: O FIDALGO <;> 02DEFINIÇÃO DE AUTO <:> 06EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO <;> 03 RESUMO <;>
ATENÇÃO: EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO
03LIT
01ABI
01AUTO DA BARCA DO INFERNO (v. tb ABI)











02ABI
DEFINIÇÃO DE AUTO


03ABI
RESUMO


Encontramo-nos junto a um rio com duas barcas e os respectivos arrais: um anjo na barca da glória e um diabo com um companheiro na barca do inferno. Vamos então assistir ao julgamento das pessoas citadas atrás.
04ABI
Cena I: O FIDALGO

Ao lermos o texto deparamo-nos com argumentos de acusação e de defesa. O Diabo actua como um delegado do Ministério Público acusando os réus e o Anjo também acusa, defende no entanto quando as circunstâncias o exigem. Quer, de facto, justiça.
O fidalgo faz-se acompanhar de um pajem que segura a cauda e de uma cadeira de espaldas, que não mais que alegorias que nos conduzem à representação mental do fidalgo na sociedade, dentro da classe que se insere.
O Diabo manifesta grande contentamento porque espera muitos condenados.
“DIABO
Oh, que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa. Verga alta! Âncora a pique! - Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?... Que cousa é esta?...”
Se atentarmos no nível da língua entre diabo e companheiro teremos de reconhecer que é baixo pois falam em calão
“COMPANHEIRO
Em boa hora! Feito, feito!
DIABO
Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta e alija aquela driça.”
Vejamos então os argumentos,
DIABO (acusação):

” FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.”


” FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namorado sandeu, o maior que nunca vi!...”

FIDALGO (defesa)

” DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...”
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai

ANJO (acusação):

“ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal que entre a minha senhoria...”
FIDALGO (defesa)

“ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca do Paraíso é esta em que navegais.
ANJO
Esta é; que demandais?”
“ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.”
O fidalgo, não tendo mais argumentos, decide-se a entrar na barca do Diabo

“DIABO
Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai: Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai, passeai e suspirai. Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente! Maldito quem em ti vai!”
Vejamos também as críticas de Gil Vicente:
CRÍTICAS À NOBREZA

“DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes, haveis de passar o rio.”

CRÍTICAS À RELIGÃO

“DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.”

CRÍTICAS À MULHER

DIABO
Assi vivas tu, amém, como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirando, se estava ela requebrando com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço, que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver, despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou, antre seus gritos e gritas, foi dar graças infinitas a quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant'a ela, bem chorou!

Somos ainda confrontados com o símbolo da cadeira quando o fidalgo tenta embarcá-la e o diabo não deixa

“Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO
Nom entras cá! Vai-te d'i! A cadeira é cá sobeja; cousa que esteve na igreja nom se há-de embarcar aqui. Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente, que queremos dar à vela! Chegar ela! Chegar ela! Muitos e de boamente! Oh! que barca tão valente!”
Atentemos na frase
“Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...”
É linguagem figurada, metafórica, que quer dizer que há-de (o fidalgo) sofre muito no inferno.

Leia agora o texto
________________________________________
Cena I
FIDALGO
Cada batel tem o seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro interlocutor é um Fidalgo que chega com um Pajem, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DIABO
À barca, à barca, houlá! que temos gentil maré! - Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO
Feito, feito! Bem está! Vai tu muitieramá, e atesa aquele palanco e despeja aquele banco, pera a gente que virá.
À barca, à barca, hu-u! Asinha, que se quer ir! Oh, que tempo de partir, louvores a Berzebu! - Ora, sus! que fazes tu? Despeja todo esse leito!
COMPANHEIRO
Em boa hora! Feito, feito!
DIABO
Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta e alija aquela driça.
COMPANHEIRO
Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!
DIABO
Oh, que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa. Verga alta! Âncora a pique! - Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?... Que cousa é esta?...
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO
Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida?
DIABO
Vai pera a ilha perdida, e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO
Pera lá vai a senhora?
DIABO
Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO
Parece-me isso cortiço...
DIABO
Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO
Porém, a que terra passais?
DIABO
Pera o inferno, senhor.
FIDALGO
Terra é bem sem-sabor.
DIABO
Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO
E passageiros achais pera tal habitação?
DIABO
Vejo-vos eu em feição pera ir ao nosso cais...
FIDALGO
Parece-te a ti assi!...
DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes, haveis de passar o rio.
FIDALGO
Não há aqui outro navio?
DIABO
Não, senhor, que este fretastes, e primeiro que expirastes me destes logo sinal.
FIDALGO
Que sinal foi esse tal?
DIABO
Do que vós vos contentastes.
FIDALGO
A estoutra barca me vou. Hou da barca! Para onde is? Ah, barqueiros! Não me ouvis? Respondei-me! Houlá! Hou!... (Pardeus, aviado estou! Cant'a isto é já pior...) Oue jericocins, salvanor! Cuidam cá que são eu grou?
ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca do Paraíso é esta em que navegais.
ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal que entre a minha senhoria...
ANJO
Pera vossa fantesia mui estreita é esta barca.
FIDALGO
Pera senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio! Levai-me desta ribeira!
ANJO
Não vindes vós de maneira pera entrar neste navio. Essoutro vai mais vazio: a cadeira entrará e o rabo caberá e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso, vós e vossa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso. E porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-eis tanto menos quanto mais fostes fumoso.
DIABO
À barca, à barca, senhores! Oh! que maré tão de prata! Um ventozinho que mata e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano, a la mano me veniredes.
FIDALGO
Ao Inferno, todavia! Inferno há i pera mi? Oh triste! Enquanto vivi não cuidei que o i havia: Tive que era fantesia! Folgava ser adorado, confiei em meu estado e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos esta barca de tristura.
DIABO
Embarque vossa doçura, que cá nos entenderemos... Tomarês um par de remos, veremos como remais, e, chegando ao nosso cais, todos bem vos serviremos.
FIDALGO
Esperar-me-ês vós aqui, tornarei à outra vida ver minha dama querida que se quer matar por mi. Dia, Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namorado sandeu, o maior que nunca vi!...
FIDALGO
Como pod'rá isso ser, que m'escrevia mil dias?
DIABO
Quantas mentiras que lias, e tu... morto de prazer!...
FIDALGO
Pera que é escarnecer, quem nom havia mais no bem?
DIABO
Assi vivas tu, amém, como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirando, se estava ela requebrando com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço, que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver, despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou, antre seus gritos e gritas, foi dar graças infinitas a quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant'a ela, bem chorou!
DIABO
Nom há i choro de alegria?..
FIDALGO
E as lástimas que dezia?
DIABO
Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai: Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai, passeai e suspirai. Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente! Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO
Nom entras cá! Vai-te d'i! A cadeira é cá sobeja; cousa que esteve na igreja nom se há-de embarcar aqui. Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente, que queremos dar à vela! Chegar ela! Chegar ela! Muitos e de boamente! Oh! que barca tão valente!
Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:
05ABI
APLICAÇÕES-1


SOLUÇÃO


06ABI
APLICAÇÕES-2
EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO


SOLUÇÃO

07ABI
APLICAÇÕES-3

SOLUÇÃO


08ABI
APLICAÇÕES-4
CENA 1 - O FIDALGO
1.
2.

SOLUÇÃO

09ABI
APLICAÇÕES-5
CENA 1 - O FIDALGO
3.
4.

SOLUÇÃO

10ABI
APLICAÇÕES-6
CENA 1 - O FIDALGO
5.

SOLUÇÃO
alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5616230156042026482" />
11ABI
APLICAÇÕES-7
CENA 1 - O FIDALGO
6.

SOLUÇÃO

12ABI
APLICAÇÕES-8
CENA 1 - O FIDALGO
6.1

SOLUÇÃO

13ABI
APLICAÇÕES-8
CENA 1 - O FIDALGO
6.2


TEXTO INTEGRAL

http://www.sagradomarilia.com.br/arqdownloads/autodabarcadoinferno.pdf


VÍDEOS

http://video.google.pt/videosearch?source=ig&hl=pt-PT&rlz=1G1GGLQ_PT-PTPT348&q=AUTO+DA+BARCA+DO+INFERNO&lr=&oq=&um=1&ie=UTF-8&ei=-4aNS7eBAsOr4QbF4MSYDw&sa=X&oi=video_result_group&ct=title&resnum=9&ved=0CC0QqwQwCA#
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R8&feature=player_embedded

O ENFORCADO E OS 4 CAVALEIROS
CENA X - OS QUATRO CAVALEIROS

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