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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

OS LUSÍADAS

GRAMÁTICA

ÍNDICE

●●●●●● ACENTUAÇÃOacentuação ●●●●●● ESTÂNCIAS: → I1; I2... ●●●●●● SÍLABAsílaba ●●●●●● VOGAISvogais



:::::
http://lusiadas.gertrudes.com/
:::::
http://cvc.instituto-camoes.pt/aprender-portugues/ouvir/maratona-de-leitura-de-os-lusiadas.html

de




http://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Vaz_de_Cam%C3%B5es

CANTO I

1. PROPOSIÇÃOproposição - ESTÂNCIAS 1 A 3

- Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos portugueses, a história do povo português.

ESTÂNCIA 1 (I1)




1. As armas e os barões assinalados -

As armas – refere-se a quê? - Naturalmente aos homens que lutavam com elas, às suas conquistas, às suas glórias
BARÕES – homens ilustres
2. que, da ocidental praia lusitana(...)

SINÉDOQUE - Substituição de um termo por outro de extensão diferente.
Parte pelo todo e vice-versa
A sinédoque é um tropo [http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropo]
Camões
Nesta passagem, a parte ("praia") designa o todo (Portugal).
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20081015144703AArIjjM

3. Por mares nunca dantes navegados
– Por onde ainda ninguém se aventurara -

4. Passaram ainda além da Taprobana
– Foram muito longe. Taprobana já se chamou Ceilão e agora chama-se Sri Lanka - http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Sri+Lanka&btnG=Pesquisar&meta=

http://www.youtube.com/watch?v=F6GATY8y4gs


5. Em perigos e guerras esforçados
ultrapassando perigos e vencendo combates com esforço perseverante;

6. mais do que prometia a força humana,"

Aqui, o Camões sobrevaloriza o povo português, colocando-os para além do normal das pessoas, mesmo ele diz mais adiante “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.”, portanto coloca os porttugueses ao mais alto nível, um nível nunca atingido
alevanta verbo
1. terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo alevantar
2. segunda pessoa do singular do imperativo do verbo
alevantar o mesmo que levantar: erguer
7. E entre gente remota edificaram
Gente remota - povos distantes;

8. Novo reino, que tanto sublimaram;

novo reino- o Império Português do Oriente;
sublimaram- tornaram sublime, engrandeceram

ESTÂNCIA 2 (I2)





1. E também as memórias gloriosas

GLORIOSAS – dignas de mérito
2. daqueles reis que foram dilatando

dilatando – aumentando

3.. a Fé, o Império, e as terras viciosas
a Fé- a religião católica
terras viciosas- aquelas onde não se pratica a religião católica, terras pagãs;

4 - de África e de Ásia andaram devastando,
Devastando – destruindo

5. e aqueles que por obras valerosas
VALOROSAS – que têm valor, que são muito apreciadas, portanto grandes feitos.

6., se vão da lei da morte libertando

se vão da lei da morte libertando- vão ganhando fama que lhes sobreviverá, serão lembrados pelas gerações futuras;
lei da morte - esquecimento

7. cantando espalharei por toda a parte
Onde quer que esteja testemunhará

8. se a tanto me ajudar o engenho e arte

o engenho e arte- a habilidade e o talento poético. –
Atenção- as estâncias 1 e 2 formam uma frase no seu conjunto e devem, por isso, ser lidas conjuntamente: "as armas e os barões assinalados (...) e as memórias gloriosas dos reis (...) e aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando, cantando espalharei por toda a parte".
http://www.tabacaria.com.pt/lusiadas/01.htm
Esta expressão "engenho e arte" foi tomada de Ariosto segundo o Prof J. M. Rodrigues
Ludovico Ariosto - (Reggio Emilia, 8 de Setembro de 1474 — Ferrara, 6 de Julho de 1533) foi um poeta italiano. - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludovico_Ariosto

ESTÂNCIA 3 (I3)





1. Cessem do sábio Grego e do Troiano
sábio Grego- Ulisses, herói da Odisseia;
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/heroi_sabio.htm
Troiano- Eneias, herói da Eneida; - http://pt.wikipedia.org/wiki/Eneias
http://pwp.netcabo.pt/0511134301/sinedoqe.htm

2. as navegações grandes que fizeram;


3. cale-se de Alexandre e de Trajano

Alexandre e Trajano- Alexandre Magno e o imperador romano Trajano (ambos realizaram conquistas na Ásia);

4. a fama das vitórias que tiveram;

5. que eu canto o peito ilustre lusitano
peito lusitano - parte pelo todo: peito lusitano por povo português - sinédoque

6. a quem Neptuno e Marte obedeceram.

Neptuno e Marte- deuses, respectivamente do mar e da guerra na mitologia romana (refere-se às descobertas e às vitórias militares dos portugueses);
" ... eu canto o peito ilustre lusitano, / A quem Neptuno e Marte obedeceram ". A submissão do deus do mar e do deus da guerra aos portugueses (" o peito ilustre lusitano ") é uma forma concisa e muito expressiva de exaltar o valor do seu herói.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Netuno_(mitologia)
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=marte%2C+deus+da+guerra&meta=

7. Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

musa antiga - metonímia (musa por poesia)- para os antigos, a musa da epopeia e da
eloquência era Calíope. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Cal%C3%ADope]

8. que outro valor mais alto se alevanta!

"cesse tudo o que a Musa antiga canta", significa que: tudo o que já foi dito ou aconteceu de algo importante algo mais magnifico vai acontecer. Então Camões diz "preste atenção, pois uma maravilha, um acto, e obra vai acontecer de tal forma que nos quatros cantos do mundo todos ouvirão. "Que outro valor mais alto se alevanta".
Camões exaltava o valor dos portugueses, como sendo maior e mais forte do que a mitologia antiga, e do que os exércitos de Roma.
O orgulho de ser português está em todos os seus versos.

COMENTÁRIO:

Esta é a primeira parte da obra (canto I, estâncias 1, 2 e 3). Aqui Luís de Camões propõe cantar as navegações e conquistas no Oriente ( do reinado de D. João I até D. João III) e as conquistas em África (de D. João I até D. Manuel ).

Na primeira estrofe, o Poeta elogia a coragem e a bravura dos Portugueses, que enfrentando inúmeros perigos conseguiram fazer o que ninguém antes tinha feito, ou seja, navegar "Por mares nunca dantes navegados", que todos receavam e que ninguém antes deles ousou fazer. Como se não bastasse, para juntar aos seus actos de bravura conseguiram chegar à Índia, onde construíram um império levando com eles a nossa cultura, religião e tradição. Tudo isto está explícito na primeira estância.

Na segunda estrofe, Camões homenageia os reis que espalharam a fé Cristã por terras de África e do Oriente e afirma que vai contar também as obras valiosas daqueles que, pelos seus feitos heróicos, se imortalizaram na memória das pessoas. Diz ainda que espera ter talento para estar à "altura" destes importantes acontecimentos:

Na última estrofe, o Poeta apela para pararem de falar dos feitos que os heróis de epopeias estrangeiras realizaram, como Ulisses, herói da Odisseia, de Homero e como Eneias, herói da Eneida, de Virgílio, pois os feitos dos Portugueses são muito mais importantes e valorosos.


INVOCAÇÃOinvocação - ESTÂNCIAS 4 E 5

- O poeta invoca as ninfas do Tejo
invocar
verbo transitivo 1. pedir o auxílio ou a protecção de; suplicar; implorar

(Do lat. invocáre)




ESTÂNCIA 4 (I4)





1. E vós, Tágides minhas, pois criado

E vós, Tágides minhas - apóstrofe: interrupção do discurso para invocar alguém sob a forma exclamativa [http://pwp.netcabo.pt/0511134301/apostrof.htm]
Camões invoca as Tágides (ninfas do Tejo, inspiradoras de poetas).
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1gides
Tágides - ninfas do Tejo, inspiradoras de Camões. Trata-se de um neologismo: palavra nova introduzida pelo Poeta. São invocadas para fazer algo de valoroso e sublime
http://web.educom.pt/p-pmndn/invocao.htm
NEOLOGISMO - Neologismo é um fenómeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Neologismo]
O Poeta apenas utiliza a apóstrofe ("Vós, Tágides minhas") para invocar as ninfas do Tejo, de forma a conseguir alcançar o seu objectivo: "narrar a História dos Portugueses dum modo tão grandioso quanto os feitos por eles realizados".
Invocar significa "chamar em seu socorro ou auxílio, particularmente o poder divino ou sobrenatural" . Na proposição, o poeta apresentou o assunto que vai tratar e, dado o carácter excepcional, a grandiosidade desse assunto, sente necessidade de pedir às entidades protectoras auxílio para a execução de tarefa tão grandiosa.
Naturalmente, Camões , sendo um poeta cristão, não acreditava nas entidades míticas de que lançou mão. Utilizou-as sempre como um simples recurso poético.
APÓSTROFE - Apóstrofe é, em síntese, a colocação de um vocativo numa oração. Ex.:"Ó leonor, não caias!" "Pai Nosso, que estais no céu", "Avé Maria" ou mesmo "Ó meu querido Santo António" são exemplos de apóstrofes). [http://pt.wikipedia.org/wiki/Ap%C3%B3strofe]

2. tendes em mim um novo engenho ardente

ardente - caracterizado por sentimento intenso; fervente; ardoroso: "
Fagundes sentia um amor ardente pela jovem colega de trabalho"- as ninfas concederam-lhe essa nova inspiração, o desejo de cantar os feitos dos portugueses, então devem igualmente dar-lhe o estilo, a eloquência necessários. Este primeiro argumento tem como fundamento a obrigação moral: quem cria a necessidade, deve fornecer os meios.

3. se sempre em verso humilde celebrado

"Verso humilde" - esta é uma personificação do verso, na qual o Poeta faz referência ao género lírico, sendo este "humilde" contrariamente ao género épico que é referido como "uma fúria grande e sonorosa".
celebrado - adj cantado, comemorado, festejado.

4. foi de mim vosso rio alegremente,

quer dizer que o Camões cantou sempre o rio de modo alegre,
jubilosamente, com alegria.
Alegremente é um advérbio de modo| Polissílabo.

5. dai-me agora um som alto e sublimado,

É a grandiosidade do assunto que se propôs tratar que exige um estilo e uma eloquência superiores que o carácter sublime do assunto justifica.
Vimos já que o poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade do assunto requerem; o " som alto e sublimado ", exigido pelo " novo engenho ardente " que as ninfas colocaram nele. Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao longo destas duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança. [http://pwp.netcabo.pt/0511134301/lusiadas.htm]

6. um estilo grandíloquo e corrente,

carácter elevado da poesia e do estilo correspondente (alto, sublimado, magnificente magno · balofo . soberbo · épico · sublime ·
grandíloco é uma palavra proparoxítona (esdrúxula) - As palavras proparoxítonas são aquelas cujo acentuação tónica se apresenta na antepenúltima sílaba. Por regra geral, todas as proparoxítonas são graficamente acentuadas.

7. por que de vossas águas Febo ordene,

8. que não tenham inveja às de Hipocrene.

"Por que de vossas águas Febo ordene / Que não tenham inveja às de Hipocrene." Agora, o fundamento psicológico é outro: o poeta procura despertar o sentimento de emulação nas Tágides, sugerindo que, ao atender o seu pedido, as águas do Tejo poderão igualar ou até suplantar a fama da fonte de Hipocrene, como inspiradoras de grandes poetas.
Febo - Febo ou Apolo era o deus do Sol, da Luz (daí a razão do seu nome), da Poesia, da Música, da Profecia, da Canção; chefe das musas - http://pt.wikipedia.org/wiki/Febo
Hipocrene - subs etimologicamente a Fonte Cabalina ou a Fonte do Cavalo
(mitologia grega) fonte que jorrava do monte Hélicón consagrada às musas
segundo a lenda começou a jorrar água depois do cavalo Pégaso ter ali dado uma patada; é consagrada pelos poetas como símbolo da inspiração
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9gaso
CAVALO PÉGASO - http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9gaso

ESTÂNCIA 5 (I5)



1. Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
2. e não de agreste avena ou frauta ruda


fúria- inspiração poética;
agreste adj. gén. rústico e rude, desagradável, áspero.
frauta - flauta
ruda (arcaismo) - rude
fúria grande e sonorosa - género épico que é referido como "uma fúria grande e sonorosa"; Inspiração, estro, entusiasmo: "... Dai-me uma fúria grande e sonorosa..."

fúria:
ímpeto de cólera
ira
estro

sonoroso adj. Sonoro, ruidoso; harmonioso; poético; melodioso
agreste avena ou frauta ruda - flauta de pastor, associada à poesia humilde ou de índole pacífica e bucólica;

3. mas de tuba canora e belicosa,
canoro adj. harmonioso (quando canta ou soa); suave; sonoro.
belicoso (ô) adj. - Propenso à guerra.
tuba canora e belicosa - trompa de guerra, associada à poesia épica;
gente que a Marte tanto ajuda - gente guerreira.

4. que o peito acende e a cor ao gesto muda.

" que o peito acende e a cor ao gesto muda ". Com esse verso pretende transmitir a ideia de que o estilo épico exerce sobre o leitor um intenso efeito emotivo, semelhante à exaltação sentida pelos próprios heróis que vai cantar. Note-se o recurso à metáfora "o peito acende", que sugere uma espécie de fogo interior avassalador, reforçada pela inversão (colocação do complemento directo antes do verbo).
a cor ao gesto muda - já dissemos que acendia o peito, como quem diz, entusiasma. Agora muda a cor ao gesto. Isto, claro, é linguagem figurada. O gesto é um substantivo abstracto, não tem cor, mas quer dizer que para nós, assim entusiamados, vemos o gesto com olhos diferentes, ficando, portanto, também entusiasmados.

5. Dai-me igual canto aos feitos da famosa
6. gente vossa, que a Marte tanto ajuda,


Que se espalhe e se cante no Universo". Para que os feitos dos portugueses possam ser admirados no mundo inteiro, é necessário que as ninfas atendam o seu pedido. Neste caso, recorre a uma argumentação finalística: pressupõe-se que esses feitos são dignos de serem apreciados, mas para o serem é necessário um estilo extremamente elevado. Que se espalhe e se cante no Universo". Para que os feitos dos portugueses possam ser admirados no mundo inteiro, é necessário que as ninfas atendam o seu pedido. Neste caso, recorre a uma argumentação finalística: pressupõe-se que esses feitos são dignos de serem apreciados, mas para o serem é necessário um estilo extremamente elevado.
que a Marte tanto ajuda – Se Marte é o deus da guerra, é portanto considerado invencível, se os portugueses o ajudam é porque são invencíveis

7. que se espalhe e se cante no Universo,
8. se tão sublime preço cabe em verso


"Que se espalhe e se cante no Universo". Para que os feitos dos portugueses possam ser admirados no mundo inteiro, é necessário que as ninfas atendam o seu pedido. Neste caso, recorre a uma argumentação finalística: pressupõe-se que esses feitos são dignos de serem apreciados, mas para o serem é necessário um estilo extremamente elevado.

se tão sublime preço cabe em verso - O que é que isto quer dizer? Tão sublime preço, ou seja os feitos eram altos e sublimados, grandiosos. Naquele tempo, séc. XVI, os versos eram muito apreciados, e os dele estavam nesse rol, uma das razões porque era muito invejado, pois estávamos na Renascença. Mesmo valendo muito, os versos, ele ainda punha em dúvida se tal valor cabia em verso. Uma figura de estilo (modéstia à parte, como se costuma dizer) para mais uma vez engrandecer os feitos dos portugueses e, ao mesmo tempo, implicitamente pôr também em destaque o valor dos seus versos, já que cantavam tamanha grandeza.

1GRAMÁTICA

VOGAISvogais

VOGAIS E CONSOANTES

FONEMA é a menor unidade sonora que uma palavra possui.

Ex: M-a-l-a, V-a-l-a.

Um único fonema foi suficiente para mudar completamente a palavra.

Nem toda letra é fonema. No nosso português temos 23 letras e 33 fonemas.

Ex: táxi = t-á-c-s-i

Temos quatro letras na palavra táxi e cinco fonemas.

Já na palavra (hoje) temos quatro letras e três fonemas.

Ex: hoje = o-j-e.

Um fonema pode ser representado por um dígrafo.

Dígrafo são duas letras formando um único fonema.
Ex: passar = ss, malha = lh, terra = rr, crescer = sc.

Obs. Em palavras onde os dígrafos (gu, qu, sc, xc) forem pronunciados, nesses casos eles não são dígrafos.
Ex: água = á-g-u-a.

As letras (m e n) não acompanhadas por vogal não representa fonema.
Ex: janta = j-ã-t-a, canta = c-ã-t-a, rampa = r-ã-p-a.

O contrario acontece quando (m e n) aparecem em finais de vocábulos.
Ex: bem = b-e-y, ligam = l-i-g-a-w.

Classificação dos Fonemas.
Os fonemas podem ser:
1 Vogais.
2 Semivogais.
3 Consoantes.

Vogal.
Toda a sílaba é composta por uma vogal. Não existe sílaba sem vogal e nem tão pouco direção sílaba vogal sai livremente pela boca (a, e, i, o, u) sem nenhum obstáculo.

Em cada palavra o numero de sílaba corresponde ao numero de vogais existentes.
Ex: mala, duas vogais, duas sílabas.
água, duas vogais, duas sílabas.

Classificações das vogais.

Quanto à zona de articulação.
1 Anteriores: /é/ ê/ i/ (língua em direcção ao palato da boca)
2 Média: /a/ (língua em repouso)
3 Posteriores: / ó/ ô/ u/ (língua em direção ao véu palatino)

Quanto à intensidade.
1 Tónicas: vogais pronunciadas com maior força.
2 Átonas: vogais pronunciadas com intensidade menor.
3 Subtónicas: vogal tónica da palavra primitiva.

Quanto ao timbre.
1 Abertas: / a/ é/ ó/ (maior abertura).
2 Fechadas: / ê/ ô/ i/ u/ a/ (menor abertura)
3 Reduzidas: / a/ é/ ó/ finais átonas (ou nasais átonas)

Quanto ao papel da cavidade nasal e bucal.
1 Orais: / a/ ê/ é/ i/ ô/ ô/ u/ (a ressonância se dá pela boca)
2 Nasais: / ã/ e/ i/ õ/ u/ (a ressonância se dá pelo nariz)

Semivogais.
As semivogais são o (i) e o (u) quando acompanhadas por uma vogal.
Ex: Urubu, o u é vogal, já em água, o u é semivogal.
Riso, o i é vogal, já em ágio, o i é semivogal.

Obs. Também o (e) quando com som de (i) e o (o) com som do (u) acompanhado de vogal são semivogais.
Ex: põe, tio, irmão etc.

QUADRO DAS VOGAIS


CLICAR PARA AUMENTAR


CONSOANTESconsoantes

Consoantes.
As consoantes são os fonemas que dificultam a passagem do ar pela boca. Não existe sílaba apenas com consoantes, contudo em uma sílaba podem aparecer mais de uma consoante.

Quanto ao modo de articulação.
1 Oclusivas: a corrente de ar encontra na boca obstáculo total.
Ex: / p/ t/ k/ b/ d/ g/

2 Constritivas: quando a corrente de ar encontra na boca pouco obstáculo.
a) Fricativas: quando a ar provoca atrito, soa um som de ficção.
Ex: / f/ v/ s/ z/ x/ j/

b) Laterais: o ar escapa pelos lados da língua.
Ex: / l/ lh/

c) Vibrantes: vibram a língua.
Ex: / r/ R/

Quanto ao ponto de articulação.
1 Bilabiais: quando há contato dos lábios.
Ex: / p/ b/ m/

2 Linguodentais: quando há contato da língua com a arcada dentaria superior.
Ex: / t/ d/ n/

3 Labiodentais: quando há contato do lábio inferior com os dentes.
Ex: / f/ v/

4 Alveolares: aproximação da língua e dos alvéolos dentais.
Ex: / s/ z/ l/ r/ R/

5 Palatais: língua e céu da boca.
Ex: / x/ j/ lh/ nh/

6 Velares: quando há contato da língua com o véu palatino.
Ex: / k/ g/

Obs. As consoantes m e n são fonemas apenas em inicio de sílaba.
Ex: mala, nada, lama, banana.
Em finais de sílabas são apenas nasalização ou ditongo.
Ex: pomba, mundo, partam.

Quanto ao papel das cordas vocais.
1 Surdas: sem vibração das cordas vocais:
Ex: / p/ t/ k/ f/ s/ x/

2 Sonoras: com vibração das cordas vocais:
Ex: / b/ d/ g/ v/ z/ j/ l/ lh/ r/ R/ m/ n/ nh/

Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal:
1 Nasais: quando o ar sai pela boca e pelo nariz:
Ex: / m/ n/ nh/

2 Orais: quando o ar sai pela boca:
Ex: todas as outras consoantes.

QUADRO DAS CONSOANTES (CLICAR PARA AUMENTAR)



Encontros Vocálicos.

1 Ditongo.
2 Tritongo.
3 Hiato.

a) Ditongo: é o encontro de uma vogal mais uma semivogal ou de uma semivogal mais uma vogal na mesma sílaba.

Os ditongos podem ser: crescente ou decrescente; orais ou nasais.

Ditongos decrescentes: ameixa, caule, muito.

Ditongos crescentes: água, aquário, série.

Ditongos orais: pai, fui, riu.

Ditongos nasais: muito, mãe, supõe, irmão.

b) Tritongo: é o encontro de uma semivogal mais uma vogal mais uma outra semivogal na mesma sílaba.

Os tritongos podem ser: orais e nasais.

Tritongos orais: iguais, Paraguai, enxaguou.

Tritongos nasais: saguão, quão, enxáguam.

c) Hiato

Hiato: é o encontro de duas vogais juntas em uma palavra, mas separadas em sílabas diferentes.
Ex: saúde, ciúmes, país, Maria.

Encontros Consonantais.
Encontro consonantal acontece quando duas ou mais consoantes se encontram juntas em uma mesma palavra.
Ex: planta, grita, Chile, traste, obstruir.

Obs. Em palavras onde o m e o n aparecem em finais de sílabas não existe encontro consonantal e sim dígrafo.
Ex: tampa, rampa, dance.

SÍLABAsílaba

A SÍLABA

PES CA DO RES

• A palavra pescadores tem 4 sílabas.
• Quanto ao número de sílabas, as palavras podem classificar-se em:
- monossilábicas –» uma sílaba –» fim
- dissilábicas –» duas sílabas –» ne ta
- polissilábicas –» mais de duas sílabas –» Ro si na

Sílaba tónica

RO SI NA

Sílabas átonas

• Na palavra Rosina não se pronunciam todas as sílabas com a mesma intensidade; a sílaba -si- é pronunciada mais forte –» sílaba tónica.
• As outras, de intensidade mais fraca, são sílabas átonas.
• Comforme a posição da sílaba tónica, as palavras podem classificar-se em agudas, graves e esdrúxulas.

ma ré a sílaba tónica é a última palavra aguda
Ro si na a sílaba tónica é a penúltima palavra grave
a né mo nas a sílaba tónica é a antepenúltima palavra esdrúxula



TRANSLINEAÇÃOtranslineação (passagem para a linha seguinte de parte de uma palavra que não coube na actual linha )

• Quando há necessidade de dividir uma palavra para translineação, a divisão faz-se, geralmente, por soletração, isto é, respeitando a divisão silábica:
ex: ne-ta re-ga-lo
Ro-si-na i-men-si-dão
• No entanto, há algumas normas a observar:
a. No caso de duas consoantes seguidas, só passa uma para a linha seguinte:
ex: ad-jun-to a-mig-da-li-te
a-dap-tar ab-so-lu-to

b. Porém, passam as duas consoantes para a linha seguinte, se a segunda for l, r ou h, respeitando-se, assim, a divisão silábica:
ex: nau-fra-ga-dos ro-si-nha
re-cla-mar me-xi-lhão

NOTA – Exceptuam-se algumas palavras, cujos prefixos terminam em -b. Ex: sub-lu-nar.

c. Quando as consoantes são iguais, separam-se obrigatoriamente:
ex: cor-rer con-nos-co
pas-sar pro-fes-so-ra

d. No caso de mais de duas consoantes seguidas, se a última não for l ou r, a divisão faz-se sempre antes da última consoante:
ex: trans-pa-ren-te em-ble-ma
trans-tor-na-do trans-gre-dir

e. Embora seja correcto, deve evitar-se deixar uma só vogal de um dos lados.

f. Nas palavras com hífen, quando o corte coincidir com ele, este repete-se na linha seguinte:
ex:

ACENTUAÇÃOacentuação

ACENTOS

• Em Português, usam-se três acentos: agudo, grave e circunflexo.

maré acento agudo
à acento grave
avô acento circunflexo

• Os acentos agudo e circunflexo só aparecem em sílabas tónicas.
• O acento grave, que é pouco usado, só se usa nas contracções.

ALGUMAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO GRÁFICA

• Todas as palavras esdrúxulas se acentuam:
- com acento agudo, se a vogal da sílaba tónica for a, e ou o abertos, i ou u:
ex: sábado
comércio
pórtico
índice
cúmplice

- com acento circunflexo, se a vogal da sílaba tónica for fechada:
ex: câmara
pêssego
estômago
ciência

• São acentuadas as palavras graves que terminam:
- em -i ou u seguidos de s ex: lápis;
- em ditongo oral (ei, ou...) e nasal (ã, ão...) seguidos ou não de s:
ex: órgão(s)
órfã(s)

- em -um e -uns:
ex: álbum / álbuns
- em -l, -n, -r e -x:
ex: túnel
Cármen
açúcar
Félix

• Também são acentuadas as que têm na sílaba tónica i ou u precedidos de uma vogal com que não formam ditongo:
ex: saída
viúva
saúde

• São ainda acentuadas:
- as formas verbais que se poderiam confundir com outras do mesmo verbo:
ex: falámos / falamos
dêmos / demos
pôde / pode

- as palavras que se poderiam confundir com outras que se escrevem da mesma maneira, mas não são acentuadas graficamente:
ex: pára / para
pêlo / pélo / pelo

• São acentuadas as terminadas:
- em a, e e o abertos ou fechados seguidos ou não de s:
ex: pá(s)
café(s)
avó(s)
avô
você
português
NOTA – acento agudo se for aberto e acento circunflexo se for fechado.

- em i e u seguidos ou não de s, quando precedidos de vogal com que não formam ditongo:
ex: caí
país
baú(s)

- em ditongo aberto -ei, -oi e -eu seguidos ou não de s:
ex: chapéu
faróis
papéis

• Também são acentuados os polissílabos terminados em -em e -ens:
ex: armazéns
alguém

NOTA – Pôr é acentuado com acento circunflexo. Os seus derivados não o são:
ex: compor
propor
dispor
repor.
http://www.prof2000.pt/users/lurdes_soa/regras%20acentua%C3%A7%C3%A3o.htm

EXERCÍCIO 1

http://exerciciosdeverificacaoportuguesutib.blogspot.com/

3. DEDICATÓRIAdedicatória - ESTÂNCIAS 6 A 18

O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo
A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’ Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.
Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império.
D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei antes do domínio espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha de Alcácer Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu de uma lenda e que tem povoado o imaginário colectivo do nosso povo, ao longo dos séculos. - http://novosnavegantes.blogs.sapo.pt/4773.html

ESTÂNCIA 6 (I6)





1. Vós – refere-se a D. Sebastião;
segurança: penhor da independência de Portugal; maura lança: exércitos mouros.
bem nascida segurança da lusitana antiga liberdade- garantia da independência de Portugal

2. Da Lusitânia antiga liberdade, - da liberdade, da independência de Portugal
METONÍMIA – emprego de um nome por outro. Aqui, o autor emprega Lusitânia por Portugal.

3. E não menos certíssima esperança
e 4. - De aumento da pequena Cristandade;
- Temos esperança de que há-de aumentar o império cristão

5. novo temor da Maura lança – novo (de novo, porque os reis anteriores também eram temidos) atemorizador (que infunde receio, que mete medo) da maura lança (dos mouros)
SINÉDOQUE – Mura lança pelo todo, o povo mouro, os árabes.

6. Maravilha fatal da nossa idade,
Fatal: determinado pelo Destino;
idade: tempo, época.
maravilha da nossa idade- assombro da nossa época;
superno: superior, supremo.

7. Dada ao mundo por Deus (que todo o mande,
e
8. Pera do mundo a Deus dar parte grande);

Dada ao mundo por Deus – Que Deus enviou ao mundo
Que todo o mande – (castelhanismo) que em tudo manda; que tudo dispõe;
para do mundo a Deus dar parte grande- para conquistar muito do mundo pagão para a Cristandade.

ESTÂNCIA 7 (I7)



1. Vós, tenro e novo ramo florescente
– tenro- jovem;
novo ramo florescente – jovem e promissor
2. De uma árvore de Cristo mais amada

– de uma genealogia (os antepassados) que Cristo muito preza porque sempre o defenderam
3. Que nenhuma nascida no Ocidente,

- Cristo ama mais a genealogia portuguesa (os reis de Potugal) do que qualquer outra

4. Cesárea ou Cristianíssima chamada;

- cesárea (kaiserlich)- denominação aplicada à linhagem real germânica, de onde a denominação "Kaiser";

5. (Vede-o no vosso escudo, que presente
– está representado no vosso escudo (agora, no presente)

6. Vos amostra a vitória já passada,

- onde podeis ver a vitória de outrora

7. Na qual vos deu por armas, e deixou
e
8. As que Ele para si na Cruz tomou)


- a vitória na batalha de Ourique, após a qual
D. Afonso Henriques juntou às suas armas as cinco chagas de Cristo.

ESTÂNCIA 8 (I8)





Camões continua a dirigir-se a D.Sebastião, a quem vai dedicar o poema.


1. Vós, poderoso rei, cujo alto Império

poderoso adj forte, possante, vigoroso, pujante
alto-nobre;

2. o Sol, logo em nascendo, vê primeiro,

- O sol nasce a oriente. E a oriente tínhamos a Índia.

3. vê-o também no meio do hemisfério,

Quando passa pelo meio do hemisfério também vê possessões portuguesas

4. e quando desce o deixa derradeiro

No hemisfério sul, Portugal também tinha possessões, como o Brasil
derradeiro – último

5. Vós, que esperamos jugo e vitupério
e
6 . do torpe Ismaelita cavaleiro


Esperamos que domines e envergonhes os mouros
jugo e vitupério- subjugação e humilhação;
do torpe Ismaelita- do Mouro vil;
jugo – domínio
vitupério – vergonha
torpe – infame, ignóbil, desonesto, baixo, abjecto.

7. do Turco Oriental e do Gentio
e
8. que inda bebe o licor do Santo Rio;


do Gentio que inda bebe (inda - ainda) o licor do santo Rio.- refere-se aos povos que praticam a religião hindu e bebem a água do Ganges que, para a sua crença, é o mais sagrado dos rios.

ESTÂNCIA 9 (I9)





Camões continua a dirigir-se a D.Sebastião, a quem vai dedicar o poema:

1. Inclinai por um pouco a majestade
Os Lusíadas de Luís de Camões

tende um pouco de paciência, de deferência, de tolerância, de consideração, de atenção
inclinai verbo - segunda pessoa do plural do imperativo do verbo inclinar
ma.jes.ta.de, feminino -qualidade do que é majestoso; título concedido a monarcas.
sua majestade - (pronome de tratamento)
vossa majestade - (pronome de tratamento)
majestoso adjectivo imponente, sumptuoso, que tem majestade

2. que nesse tenro gesto vos contemplo,

a majestade "que nesse tenro gesto vos contemplo" - quer dizer que, sendo D. Sebastião tão novinho, já é rei e, portanto, tem majestade, própria do seu estado de soberano.
tenro adj. masculino - novo; delicado; inocente.
contemplo verbo primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo contemplar

3. que já se mostra qual na inteira idade

na inteira idade- no fim da vida;

4. quando subindo ireis ao eterno templo.

quando subirdes ao Céu

5. Os olhos da real benignidade
e
6. ponde no chão: vereis um novo exemplo


Benignidade - benevolência, generosidade, bondade, condescendência, complacência, doçura, afabilidade.
Os olhos da real benignidade ponde no chão - Portanto, sede bondosos, mesmo sendo o rei, olhai para baixo e vereis um novo exemplo. De quê? Vejamos a estrofe seguinte:

7. de amor dos pátrios feitos valerosos,

Portanto vereis como os portugueses amam os grandes feitos e, amando-os fazem-nos.
pátrios - da Pátria, feitos pela Pátria, para defesa e engrandecimento da mesma.
Valerosos - arcaísmo de
valorosos - arrojados, corajosos, audaciosos , audazes destemidos , esforçados, valentes

8. em versos divulgado numerosos

Isto quer dizer que esses feitos foram escritos em verso, e, claro, versos esses que serão lidos e, portanto, divulgados, espalhados para as pessoas tomarem conhecimento deles.

divulgados - espalhados, propagados.
versos (...) numerosos-versos harmoniosos (da palavra latina para ritmo.)
(Os lusíadas têm 1813 versos http://profarthur.blogspot.com/2009/04/quantos-versos-tem-os-lusiadas.html)

SINTAXE
Inclinai por um pouco a majestade – oração principal

SUJEITO: vós (refere-se a D. Sebastião)
PREDICADO: inclinai (verbo inclinar)
COMPLEMENTO DIRECTO – a majestade (quem inclina, inclina alguma coisa)

Que nesse tenro gesto vos contemplo – esta oração é introduzida por um pronome relativo (que), logo é uma oração subordinada relativa .

SUJEITO – Eu
PREDICADO – contemplo
COMPLEMENTO DIRECTO – Que (referido a majestade; que a qual majestade é o complemento directo).
COMPLEMENTO INDIRECTO – vos (vos a vós é o complemento directo – eu contemplo a alguém. O quê? – a majestade, que já dissemos ser o complemento directo.
tenro é um determinativo de gesto
gesto – será um complemento circunstancial. De quê? De lugar onde. Onde é que eu vos contemplo a majestade? – no gesto



ESTÂNCIA 10 (I10)



1. Vereis amor da pátria, não movido
e
2. de prémio vil, mas alto e quase eterno


não movido de prémio vil- desinteressado;
pá.tri.a substantivo feminino país em que nascemos;
nação

movido - paticípio passado do verbo mover - sinónimos: impelido, levado, impulsionado, instigado, ocasionado.
vil - infame, ignóbil, abjecto, nojento, repugnante, asqueroso, sórdido.
mas alto e quase eterno - o prémio para os portugueses, seria a alegria de servir a pátria, a alegria do cumprimento do dever e, para além disso, orgulhavam-se de ficarem a ser conhecidos por servirem a pátria, tal como dizem as duas estâncias seguintes

3 . que não é prémio vil ser conhecido
e
4.por um pregão do ninho meu paterno


ninho meu paterno- minha pátria;
superno- supremo (aportuguesamento do termo latino).
pregão s. m. Anúncio proferido em voz alta; Divulgação.
Portanto, mais uma vez, o facto de ser conhecido por prestar serviços à Pátria era um prémio, sim, mas não era um prémio de que tivessem de ter vergonha, muito antes pelo contrário, era um prémio de que se orgulhavam, porque de facto nesta frase, temos de certo modo uma ironia, pois se alguém pensa que isso é um prémio vil, não é, não senhor, é um prémio grandioso de que os portugueses se orgulham.

5. Ouvi: vereis o nome engrandecido
e
6. daqueles de quem sois senhor superno


vereis - verbo - segunda pessoa do plural do futuro do indicativo do verbo ver
engrandecido (ê) v. tr. - Elevado em dignidade, enobrecido.
superno- supremo (aportuguesamento do termo latino).
daqueles de quem sois senhor superno - daqueles de quem sois rei.

7. e julgareis qual é mais excelente:
e
8. se ser do mundo rei, se de tal gente!


Portanto, vós é que haveis de dizer (depois de pensar no assunto) se gostaríeis mais(se seria melhor) ser rei do mundo ou dos portugueses.
É claro que o sentido é hiperbólico. Ora uma hipérbole é um exagero, que tem aqui por finalidade engrandecer os portugueses. O que o Camões lhe queria dizer (com a subtileza das palavras que empregou), era que era muito mais importante ser rei dos portugueses (tal gente!) do que ser rei do mundo!

julgar - v. tr. - Decidir, imaginar, formar juízo acerca de alguma coisa.
excelente adj. 2 gén. - Muitíssimo bom; óptimo; perfeito; Distinto.

ESTÂNCIA 11 (I11)





1. Ouvi: que não vereis com vãs façanhas,
e
2. fantásticas, fingidas, mentirosas,


vã adj. f.de vão.
vão adj. Inútil; Sem valor; ilusório, sem fundamento real.;fútil, vanglorioso., falso; fantástico.

fingido

adj.
1. Falso, fementido.
2. Hipócrita.
3. Aparente.
4. Simulado.
5. Enganoso.

Portanto, não me vereis louvar os vossos ((os portugueses)com façanhas (feitos)que não sejam verdadeiros.

"Louvar os vossos" encontra-se na estância 3 para completar o sentido da estãncia 2. Em versificação chama-se enjambement.

3. louvar os vossos, como nas estranhas
e
4. musas, de engrandecer-se desejosas;


estranhas musas- poemas alheios;
engrandecer (ê)
v. tr.
1. Aumentar.
2. Figurar maior que a realidade.
3. Exagerar.
4. Elevar em dignidade.
5. Enobrecer.
6. Tornar memorável.
7. Exaltar, louvar.
v. intr. e pron.
8. Tornar-se grande.
9. Tornar-se poderoso.
10. Crescer em honras.
11. Elevar-se.
12. Tirar glória.
desejoso (ô)
adj.
1. Cobiçoso; que deseja.

5. as verdadeiras vossas são tamanhas,

As vossas, que são verdadeiras, são tão grandes...

6. que excedem as sonhadas, fabulosas.

Portanto, são maiores, mais importantes, mais valorosas do que quaisquer outras sonhadas ou imaginadas,

exceder (eis...ê) - Conjugar
v. intr.
1. Ir além de.
2. Levar vantagem a.
3. Ultrapassar.

fabuloso (ô)
adj.
1. Da fábula ou a ela relativo.
2. Mitológico.
3. Inventado, fictício.
4. Fig. Extraordinário, grandioso.
5. Incrível.

7. que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro,
e
8. e Orlando, inda que fora verdadeiro.


inda que fora verdadeiro - ainda que fosse verdade.
inda | adv.
adv.
Ainda.
Rodamonte: deformação de Rodomonte, personagem do poeta italiano Boiardo em Orlando Innamorato (séc. XV);
Rugeiro: Ruggiero, personagem do poema Orlando Furioso" (vão= vaidoso), de Ariosto (poeta italiano, séc. XVI).
Orlando: Roland, vão Rugeiro (ou Rogério)- personagem do poema "Orlando Furioso"(vão= vaidoso);
Orlando (ou Rolando – séc xi)- herói do poema "La Chanson de Roland", acerca da batalha de Roncesvalles de quem se dizia poder derrubar duzentos adversários de um só golpe. Segundo o poema, no combate final contra quatrocentos inimigos bascos consente, finalmente, em chamar o corpo principal do exército de Carlos Magno, tocando a sua trompa de guerra. [http://pt.wikipedia.org/wiki/La_chanson_de_Roland]

ESTÂNCIA 12 (I12)





1. Por estes vos darei um Nuno fero,
e
2. que fez ao rei e ao reino tal serviço


um Nuno fero- D.Nuno Álvares Pereira - herói da independência nacional, após a morte de D. Fernando.[http://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_%C3%81lvares_Pereira;
];
fero adj.
1. Feroz.
2. Selvagem, bravio.
3. Inculto.
4. Indómito.
5. Violento.
6. Áspero.
7. Forte, vigoroso, são.

3. um Egas e um Dom Fuas, que de Homero
e
4. a cítara para eles só cobiço;


um Egas- Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques [http://pt.wikipedia.org/wiki/Egas_Moniz,_o_aio];
um Dom Fuas- D.Fuas Roupinho, 1º. almirante português, no reinado de D. Afonso Henrriques. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Fuas_Roupinho];
Homero- lendário poeta grego que teria sido o autor da Odisseia e da Ilíada (cítara- instrumento musical com que os gregos acompanhavam a declamação);

5. pois pelos doze pares dar-vos quero
e
6. os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;


Doze Pares- os Doze Pares de França, cavaleiros de Carlos Magno;
os Doze de Inglaterra e o seu Magriço- doze cavaleiros portugueses que teriam ido a Inglaterra, no tempo de D. João I, desafrontar doze damas ofendidas por cavaleiros ingleses
Magriço- um dos 12 cavaleiros de Inglaterra. [http://bolotax.blogspot.com/2004/06/o-magrio-e-os-doze-de-inglaterra.html]

7. dou-vos também aquele ilustre Gama
e
8. que para si de Eneias toma a fama.


ilustre Gama - Vasco da Gama que descobriu o caminho marítimo para a Índia, de cuja viagem Camões se serve como pretexto para cantar a história de Portugal.

de Eneias toma a fama - o poeta faz aqui um paralelismo entre Eneias e Vasco da Gama. É sabido que, de pois da queda de Tróia, Eneias, segundo a lenda, pegou no pai, Anquises, às costas e errou pelo mundo até chegar a Itália onde fundou Roma. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Anchises]

ESTÂNCIA 13 (I13)





1. Pois, se a troco de Carlos, rei de França,
e
2. ou de César, quereis igual memória,


Carlos- Carlos Magno cujo império incluía a França. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno]
César - líder militar e político da República romana. [http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_C%C3%A9sar]

3. vede o primeiro Afonso, cuja lança,
4. escura faz qualquer estranha glória;


o primeiro Afonso- D.Afonso Henriques; [http://www.vidaslusofonas.pt/d.afonso_henriques.htm]
cuja lança, escura faz qualquer estranha glória- cujos feitos de armas fazem empalidecer, por comparação, as glórias alheias; portanto, mais valente que seja quem for.

5. e aquele que a seu reino a segurança
e
6. deixou, com a grande e próspera vitória;


aquele que (...) com a grande e próspera vitória- D. João I que garantiu a independência de Portugal com a vitória de Aljubarrota;

6. outro Joanne, invicto cavaleiro;

outro Joanne, invicto cavaleiro- D. João II que, ainda príncipe, comandou a vanguarda portuguesa na batalha de Toro, superiorizando-se aos opositores. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_II_de_Portugal;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Toro]

7. o quarto e quinto Afonsos e o terceiro

o quarto Afonso - D. Afonso IV [http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_IV_de_Portugal]
o quinto afonso - D. Afonso V [http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_V_de_Portugal]

ESTÂNCIA 14 (I14)





1. Nem deixarão meus versos esquecidos
e
2. aqueles que, nos reinos lá da aurora,


nos reinos da aurora- no Oriente (onde o Sol nasce);
portanto não me vou esquecer dos vice-reis da Índia. Como se sabe a Índia fica no Oriente.

3. se fizeram por armas tão subidos,

por armas tão subidos - elevados pelas armas, conquistadores.

4. vossa bandeira sempre vencedora:

venceram sempre, por Portugal

5. um Pacheco fortíssimo e os temidos
e
6. Almeidas, por quem sempre o Tejo chora,


um Pacheco fortíssimo - refere-se a Duarte Pacheco Pereira, grade herói do séc XVI [http://pt.wikipedia.org/wiki/Duarte_Pacheco_Pereira]

os Almeidas, por quem sempre o Tejo chora- D.Francisco de Almeida, 1º. vice-rei da Índia e o filho D.Lourenço, nenhum dos quais regressou a Portugal (D. Lourenço pereceu num combate naval em Chaul e D.Francisco morreu na costa africana, num recontro de circunstância contra nativos); [http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Almeida_(vice-rei_da_%C3%8Dndia)]

7. Albuquerque terribil, Castro forte,
e
8. outros em quem poder não teve a morte.
terríbel - arcaismo

(terribel - arcaismo, por terrível)

terrível adj. 2 gén.
1. Que infunde terror.
2. Assustador.
3. Medonho.
4. Enorme.
5. Extraordinário.
6. Funestíssimo.
7. Muito mau.

Albuquerque terribil refere-se a afonso de Albuquerque, 2º. vice-rei da Índia. [
http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_de_Albuquerque]

Castro forte- D.João de Castro, último grande vice-rei da Índia. [http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Castro]

ESTÂNCIA 15 (I15)



1. E, enquanto eu estes canto e a vós não posso,

vós - pronome pessoal do caso reto (sujeito): segunda pessoa do plural

Usado para indicar as pessoas a quem se fala;
n.b. É mais aplicado em textos poéticos ou antigos. A linguagem falada não o usa.
Vossa senhoria, vossa majestade;
n.b. Neste caso, o interlucutor pode ser uma única pessoa, a forma vós funciona então como deferência de respeito
"A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas."(Oração católica - "Salve Rainha")

eu, pronome pessoal - primeira pessoa do singular, caso reto (sujeito)

usado por um ser para indicar a si próprio.

que a vós não posso - que a vós não posso cantar porque (completa na estãncia) seguinte) não me atrevo.
Mas isto é um processo oratório para chamar a atenção dop interlocotor pelo que vai dizer a seguir pois que nas estâncias seguintes ele diz, que, uma vez a começar a reinar fará muitass coisas dignas de ser cantadas.

2. sublime rei, que não me atrevo a tanto,

sublime - sublime adj. 2 gén.
1. Muito alto.
2. Perfeitíssimo.
3. Majestoso.
4. Excelso; que fica acima de nós.
5. Poderoso.
6. Grandioso.
7. Esplêndido; encantador.

atrever-se (ê) - verbo pronominal
1. Determinar-se ao que é arriscado.
2. Ter a ousadia de.
3. Ousar; afoitar-se a.

Presente do indicativo do verbo atrever:

eu atrevo
tu atrves
ele atreve
nós atrevemos
vós atreveis
eles atrevem


Presente do indicativo do verbo atrever conjuado pronominalmente:

eu atrevo-me
tu atrves-te
ele atreve-se
nós atrevemo-nos
vós atreveis-vos
eles atrevem-se

a tanto pron. indef. - a tal grau.

3. tomai as rédeas vós do reino vosso:

começai a reinar no reino que vos pertence
Temos aqui uma figura de estilo - metáfora - que consiste em designar um objecto ou ideia por uma palavra que convém a outro objecto ou ideia - ligados aqueles por uma analogia. A metáfora funde, portanto, em um único, os dois termos de comparação.
O cavaleiro toma as rédeas do cavalo para o conduzir. Esta imagem "de tomar as rédeas" dá-nos a ideia de condutor, neste caso do rei, que conduz o povo, que o governa.

4. dareis matéria a nunca ouvido canto!

Os vossos feitos hão-de ser de tal modo valiosos e numerosos, que o canto que os cantar há-de ser único, o melhor, pois nunca foi ouvido, já que até aí nunca ninguém fez uns versos assim!

5. Comecem a sentir o peso grosso

o peso grosso (...) de exércitos- as pesadas consequências da acção militar portuguesa;

6. (que polo mundo todo faça espanto)

de tal modo que toda a gente ficará admirada

7. de exércitos e feitos singulares

singular - único, raro

8. de África as terras e do Oriente os mares.

Os feitos serão nas terras de África e nos mares do oriente.

ESTÂNCIA 16 (I16)





1. Em vós os olhos tem o Mouro frio,

o Mouro frio- os mouros aterrados (frios de medo...);

2. em quem vê seu exício afigurado;

exício- ruína completa;

3. só com vos ver, o bárbaro Gentio
gentio - não cristão

bárbaro - não civilizado, neste caso empregado com a ideia de uma cultura diferente, não cristã.

bárbaro adj.
1. Cuja cultura medeia entre a dos civilizados e a dos selvagens.
2. Próprio de quem não é civilizado.
3. Fig. Rude.
bárbaros
s. m. pl.
4. Povos do Norte que invadiram o Império Romano do Ocidente.
5. Os estrangeiros em relação aos Gregos e Romanos.

4. mostra o pescoço ao jugo já inclinado;

acha que já está condenado, estendendo o pescoço para lhe ser posto o jugo. Evidentemente que falamos em linguagem figurada, este jugo aqui quer dizer domínio.
5. Tétis todo o cerúleo senhorio

Tétis- deusa do mar;
todo o cerúleo senhorio- todo o mar (cerúleo- tom de azul);
tem (...) aparelhado-tem preparado (à espera).

6. tem para vós por dote aparelhado

7. que, afeiçoada ao gesto belo e tenro,

gesto belo e tenro. Temos aqui uma metáfora, poderíamos dizer que o gesto é atractivo. Agora tenro é outra figura de estilo uma enálage, porque Camões chama tenro ao gesto e quem é tenro é D. Sebastião, não é o gesto. O autor emprega a palavra tenro com o sentido de jovem, já que D. Sebastião subiu ao trono com 14 anos.

8. deseja de comprar-vos para genro

que vos é afeiçoada, que gosta de vós.
Dissemos atrás que Tétis era a deusa do mar. Neste verso dizemos que ela quer comprar D. Sebastião para genro. Este comprar também é um modo de dizer, quere-o para genro, pura e simplesmente. Porquê? Porque é que a senhora do mar quer D. Sebastião para genro? Porque o seu filho é o povo português que vai ser senhor dos mares. Portanto, a ideia é esta: Portugal vai ser soberano dos mares.

ESTÂNCIA 17 (I17)



1. Em vós se vem, da olímpica morada,

vem - arcaismo vêem do verbo ver
da olímpica morada - do céu. Pela sequência vemos que D. João III e Carlos V, já estavam no céu (já tinham morrido).

2. dos dois avôs as almas cá famosas,

dos dois avôs - os dois avós eram D. João III e o Imperador da Casa de Aústria, Carlos V, já que era o pai de D. Catarina de Áustria, esposa de D. João III.
as almas cá famosas - É claro qeu é evidente que, tanto D. João III, como o Imperador Carlos V eram cá (na Terra, neste mundo) famosos. Portanto, ligando os dois versos,
"Em vós se vêem, da olímpica morada,
dos dois avôs as almas cá famosas",
denotamos a ideia do poeta, que quer dizer que a alama dele era constituída pelo conjunto das duas, dos dois avós. Inevitavelmente teria de ser famoso.

3. uma na paz angélica dourada,

Em paz, sem guerras, sem batalhas, sem conflitos. D. João III

4. outra, pelas batalhas sanguinosas.

Outra sempre em batalhas sangrentas - O Imperador Carlos V
sanguinoso (ô) adj. Sanguinolento.

5. Em vós esperam ver-se renovada
e
6. sua memória e obras valerosas;


esperam - quem é que espera? As almas (D. João III e Carlos V)
esperam o quê? esperam ver renovada a sua memória e obras valorosas, portanto esperam que ele esteja à sua altura, que atinja a glória tal como eles.

7. e lá vos tem lugar, no fim da idade,
e
8. no templo da suprema Eternidade


e lá vos tem lugar - onde? - no templo da suprema Eternidade, nocéu
suprema eternidade - onde a eternidade é mais agradável, o céu
templo da suprema Eternidade - é uma sinédoque porque se diz por várias palavras(afim de alindar o texto) o que se poderia dizer numa só (céu)

ESTÂNCIA 18 (I18)



1. Mas, enquanto este tempo passa lento
2. de regerdes os povos, que o desejam,
3. dai vós favor ao novo atrevimento,
4.para que estes meus versos vossos sejam;


Camões pede a D.Sebastião autorização para lhe dedicar Os Lusíadas ("...para que estes meus versos vossos sejam...")

novo atrevimento - A epopeia "Os Lusíadas" - Já se sabe que Lusíadas quer dizer descendentes de Luso, os Lusitanos. Refere-se aos Portugueses, porque estes são descendentes dos Lusitanos.

5. e vereis ir cortando o salso argento
e
6. os vossos argonautas, por que vejam


cortando o salso argento - navegando
salso- salgado
argento- cor de prata
salso argento- salgado e cor de prata, as espumosas ondas do mar;
argonautas- navegantes (de Argos, nome do navio do mítico herói Jasão);[http://pt.wikipedia.org/wiki/Argonautas]
os vossos argonautas - os vossos navegantes. Tal como os argonautas se aventuraram no mar à procura do velo de oiro, também os portugueses fizeram o mesmo, à procura dos seu velo de oiro: a pimenta da Índia e as outras especiarias, o oiro e diamantes do Brasil, etc.

7. que são vistos de vós no mar irado,
Completamos o sentido desta estância com "para que vejam:" da anterior:

por que vejam
que são vistos de vós no mar irado - para que fiquem a saber que vos interessais pelelo que os portugueses fizeram de heróico no mar.

8. e costumai-vos já a ser invocado

invocar - Chamar em auxílio.
costumai-vos já a ser invocado- Camões parece sugerir uma prática (talvez meramente elogiosa) de invocar o nome do rei em momentos de perigo.

[http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_de_Portugal]

COMENTÁRIO:

A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão; pela ilustre e cristianíssima ascendência e ainda pelo grandioso Império de que é senhor.
Aos louvores, segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa como “um pregão do ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição que faz do assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspecto particularmente importante, a obra não versará heróis e factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o nomeando alguns heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias.
Apesar dos versos não estarem transcritos no livro de leitura, termina o seu discurso incitando o Rei a dar continuidade aos feitos gloriosos dos portugueses, nomeadamente, combatendo os mouros, e renovando o pedido de que leia os seus versos.
O discurso da Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, apelo de carácter pessoal e argumentos que o fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de conclusão, breve reforço do apelo pessoal.
Há quem considere que esta parte do poema apresenta uma estrutura própria do género oratório: Um exórdio, que corresponde ao início do discurso (6 a 8); uma exposição ou corpo do discurso (9 a 11); uma confirmação, em que seriam apresentados exemplos e ou argumentos (12 a 14) e um epílogo ou conclusão (15 a 17). Veja-se ainda a utilização da segunda pessoa do plural (“vós”), do modo imperativo (“Ouvi”) e de numerosas apóstrofes (“ó bem nascida segurança” que também poderá ser considerada uma perífrase) e que são características da oratória.
Debruçar-me-ei apenas sobre as estrofes em análise.
No exórdio (6), o poeta dirige-se a D. Sebastião declarando-o: o enviado providencial para assegurar a independência de Portugal, continuando a obra da dilatação da fé e do império. Note a forma como o vocativo «vós» se desdobra em rasgados elogios: D. Sebastião é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o continuador da dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo certo, «dado ao mundo por Deus».
Na exposição (10, 11), o poeta pede a D. Sebastião que ponha os olhos no poema que desinteressadamente fez e lhe dedica, no qual ele verá os grandes feitos dos portugueses, reais e não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas epopeias, de tal forma que o jovem rei se poderia julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo todo (hipérbole).
Note como o poeta desliga a glória de ser conhecido pela sua obra do «prémio vil», já que o moveu o «amor da pátria».
Veja a profusão de sinónimos para falsas proezas: vãs façanhas, fantásticas, fingidas, mentirosas, sonhadas, fabulosas. Tudo isto é suplantado pelas proezas «verdadeiras» dos Portugueses. Uma hipérbole que os últimos dois versos repetem.
O vocativo e o modo imperativo são as marcas mais notórias da função apelativa da linguagem. Vejamos, então, no texto, a frequência destas duas marcas: “E vós, ó bem nascida segurança...”, “ó novo temor da maura lança...” “Ouvi…” “Ouvi...”.
Os Lusíadas são fonte de glória para Camões pode ver-se nos quatro primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a escrever o seu poema, não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. Esse prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses (ser conhecido por um pregão do ninho meu paterno).
O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei destinado pelo Fado, ou pela Providência, a grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, dilatando a fé e o império (“para do mundo a Deus dar parte grande”).
O louvor de D. Sebastião está pois, em ser apresentado como um jovem-rei em que o povo português tudo espera, rei que a providência faz surgir para retomar a grandeza dos feitos portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria reflecte a crise em que a nação já se encontrava, mas ela estava lá tão arreigada no povo que não desapareceu da sua alma nem com a morte do rei. O sebastianismo é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação em crise

ESTÂNCIA 19 (I19)

INÍCIO DA NARRAÇÃO





[http://pwp.netcabo.pt/0511134301/lusiadas.htm#narracao]

1. Já no largo Oceano navegavam,
e
2.As inquietas ondas apartando;


Já no largo Oceano navegavam,
Já no largo Oceano navegavam, - seguiam oceano fora
As inquietas ondas apartando;
Inquietas – que se mexia, móveis tocadas pelo vento, sempre a mexer de um lado para outro, como pessoas inquietas.
apartando - cortando - um navio quando nvega corta as ondas, divide-as para passar, um facto trivial que todos nós contemplamos quando vemos um barco avançar na nossa direcção.

3. os ventos brandamente respiravam,
e
4. das naus as velas côncavas inchando;


os ventos brandamente respiravam, - os ventos brandamente os levavam -
brandamente advérbio - de modo brando.
brando adj.
1. Que cede à pressão.
2. Mole.
3. Suave, fraco.
4. Leve.
5. Pouco enérgico.
6. Afável, meigo.
vela s. f.
1. Pano forte e resistente que se prende aos mastros para fazer andar as embarcações, ou aos braços dos moinhos de vento para os fazer girar.
côncavo adj.
Cuja superfície é esfericamente cavada: "bebi água com o côncavo da mão"
inchar - v. tr.
1. Engrossar ou avolumar (por inchação).
2. Enfunar.

respirar - imperfeito do indicativo do verbo respirar:
eu respirava
tu respiravas
ele respirava
nós respirávamos
vós respiráveis
eles respiravam


5. da branca escuma os mares se mostravam
e
6. cobertos, onde as proas vão cortando


escuma s. f.
1. Espuma.
2. Conjunto de bolhas cheias de ar ou de gás, à superfície dum líquido.
proa (ô) s. f.
1. O rosto de um barco.
2. A parte dianteira do navio no terço do seu comprimento.[http://teqindex.hpg.com.br/damapor2.htm]

7. as marítimas águas consagradas,
8. que do gado de Proteu são cortadas.

consagradas - sagradas, santificadas
Proteu - deus marinho, guardadador do gado de Neptuno (Poseídon para os gregos): tnha o dom de tomar todas as formas possíveis.




ESTÂNCIA 19 (I20)

Quando os Deuses no Olimpo luminoso,
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em concílio glorioso
Sobre as cousas futuras do Oriente.
Pisando o cristalino Céu formoso,
Vêm pela Via-Láctea juntamente,
Convocados da parte do Tonante,
Pelo neto gentil do velho Atlante.

1. Quando os Deuses no Olimpo luminoso, e
2. Onde o governo está da humana gente,,


Os deuses – na mitologia pagã havia muitos deuses. Por exemplo:











1. Quando os Deuses no Olimpo luminoso,

O Olimpo era a morada dos deuses, corresponderá, na acepção cristã, ao céu.
luminoso - brilhante. Podemos considerar este luminooso também numa acepção mais lata, este brilho poderá corresponder a um poder sobrenatural, acima dos humanos; estes, comparados aos deuses, são obscuros, insignificantes.

2. Onde o governo está da humana gente - Tal como Deus do céu, na acepção cristã, governa o mundo, também os deuses, na acepção pagã governavam esse mesmo mundo, onde habitam os humanos (a humana gente).

Pelo neto gentil do velho Atlante": neto do velho Atlante, ou Atlas, era Mercúrio, o mensageiro dos deuses. - MAIA, uma das Plêadas [http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Pl%C3%AAiades], que era filha do titã Atlas (Atlante) e foi amante de Zeus e, por isso, mãe de Hermes (Mercúrio).