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sábado, 24 de julho de 2010

O BOBO de ALEXANDRE HERCULANO

02LIT
O BOBO DE A H



RESUMO
O castelo de Guimarães, altaneiro, tal como se exibia em princípios do séc. XII, destacava-se entre os seus congéneres que povoavam os pontos altos de Portugal e da Galiza, por sua fortalazeza, vastidão e elegância. A maior parte das edificações semelhantes eram nessa altura apenas um agregado de grossas vigas travadas entre si e apresentando-se sob a forma de uma série de torres irregulares cujas paredes, um grande número de vezes edificadas em cantaria onde o cimento não marcava a a sua presença, com grande dificuldade faziam frente aos aríetes e aos tiros das catapulpas.


Mas o castelo de Guimarães, escolhido para residência oficial da corte, olhava, sempre que queria, da colina sobre a qual repousava, altaneiro, tranquila e desdenhosamente para os formidáveis e diversificados aparelhos militares de cristãos e agarenos.
É nesta alcáçova, rodeava pelas suas elegantes e formidáveis fortificações que começa a história de Portugal.


E vamos agora falar dos seus habitantes: a virtuosa e honrada rainha D.Teresa, a infanta dos portugueses, o mui excelente e nobre cavaleiro Fernando Peres, conde de Trava, alcaide-mor do castelo de Faro, na Galiza e dos castelos de Santa Ovaia e de Soure, em Portugal.
A ligação entre ambos, muito ardente, como o seu comportamento patenteava, dava azo às línguas dos maldizentes, a uma alcovitice muito percuciente.
Muitas matronas, cuja idade, mestra exímia caldeara virtudes cristianíssimas, afastaram-se da corte escandalizadas para as suas honras e solares.
Mas as donzelas eram tolerantes: a vida cortesã era risonha demais, com seus banquetes, torneios e festas de todo o género, para que não oferecerem a Deus aquele sofrimento de presenciarem tal escândalo.
Para além disso, o mosteiro de D. Muma, beatificamente assente na baixa, no burgo, não tinha, para além da Sé de Braga, par na pompa de suas festas.
Estes atractivos, que retinham a gente moça na corte de Guimarães, eram ainda enriquecidos por um outro, feitiço inexplicável, fascinação irresistível para a m
aioria, senão todos os espíritos: D. Bibas, um homúnculo de pouco mais de quatro pés de estatura, feio como um judeu, barrigudo como um cónego, imundo como certas consciências e intolerante como um vilão de beetria a quem tivessem subido à cabeça os seus direitos de eleitor. Chamava-se, de seu nome, Dom Bibas.
Oblato do mosteiro de D. Muma até chegar à idade da razão, altura em que decidiu que não tinha temperamento para continuar a vida no silêncio de um convento. Começou a sentir pendência para trovador e garbo de folião, testada nas tabernas do burgo e, de tal modo, que a sua presença se tornara tão almejada como o doce sumo da uva depois de fermentado e reconfortante como os seus eflúvios.
A fama de D. Bibas trepava às alturas quando o Conde D. Henrique se ausentara da corte e o o seu bufão trazido da Borgonha falecera.


E eis que, assim, muito simplesmente, sem protecções nem intrigas de qualquer ordem, o nosso antigo menino do mosteiro subiu a uma altura por ele nunca idealizada nos seus sonhos de felicidade: o seu mérito herdou a palheta do seu antecessor, bem como a gorra e o gibão e a saia orlada de guizos.
Da noite para o dia viu-se sobranceiro àqueles que na véspera o apupapavam e que podia agora olhar com ar protector.
Mas temos de ser sinceros acerca da verdade a respeito de D. Bibas: sempre generoso para com os humildes de que era um par antes de ver o sol pelas alturas, nunca abusando do seu valimento para os apoucar.
O que era um bobo ao tempo dos acontecimentos que narramos?
Um potentado a quem a corte temia e, concomitantemente, um animal doméstico humilhado a cada momento por esses mesmos cortesãos que o temiam.
A profissão dele era alegrar os outros para o que constantemente cogitava ditos
satíricos que provocavam a hilaridade de uns e açoitavam dolorosamente outros-
Ria de tudo sendo, ao mesmo tempo, juiz e carrasco. Nele se reflectia, como num espelho de cristal, com nitidez cinematográfica, a malvada silhueta de uma sociedade nada coesa e incompleta. A obscuridade envolvia-o ciclicamente, bem como os maus tratos e as afrontas ignominiosas daqueles que, em público, haviam sido o alvo dos seus chistes percucientes, passadas as horas de convivência ou de festa. As mais cavas misérias humanas, passam a poder ler-se, resumidas naquela figura de palhaço.
Mas tudo isto não consegue explicar o prestígio do bufão, aquele enlevo, aquele deslumbramento cavando fundo no espírito das damas e donzelas da antiga, linda e harmoniosa infanta de Portugal, filha bastarda de Afonso VI.
Este nosso D. Bibas, com pouco mais de cinco palmos de altura, era deveras excepcional e a truanice
acentuadamente da Borgonha, tinha progredido em Portugal, muito fundamentalmente pela sua artística inspiração. O caudal de insolências e ditos cruéis, insanamente disseminadas à sua volta, como lava incandescente de um vulcão envolvendo a assistência, não atingia num cabelo sequer as suas queridas damas protectoras.
Debaixo da cruz daquele simulacro de espada de madeira pulsava, no entanto, um genuíno coração de português.
D. Bibas era espontaneamente delicado, não calculava, estava-lhe no cimo da sensibilidade, no sangue que circulava no seu corpinho de homúnculo. E este factor contribuía decisivamente para a sua influência, para o afecto, carinho e bem querer com que as damas o mimoseavam. Este indivíduo fraco e sem forças, era ao mesmo tempo o terror e martírio dos fortes, que não poucas vezes se levantavam encolerizados contra ele e o esmagariam decerto, vingando-se de algum dito espirituoso pouco lisonjeiro para o visado, se ele timorato e pressuroso não se recolhesse no seu asilo seguro, no seu castelo amuralho, cujas pedras construíam nada mais nada menos do que o bastidor das suas queridas damas a quem nunca ofendia, que se desenfastiavam dos dias de tédio bordando a sua tela de variegadas cores, bordando as batalhas, os torneios ou os saraus. Enfim, motivos do tempo que fervilhavam à volta.
Ali, o nosso D. Bibas, como coelho recolhido na sua toca, desafiava o poder do seu encarniçado agressor que naquele combate desigual saía muitas vezes malferido,
pois nada podia contra a a arma mais temida de um cavaleiro: as damas.

Eram cerca de dez horas de uma noite quente de junho, quando nas magnifi -centes salas do castelo de Guimarães se ouvia o som das cítaras, das harpas e das das doçainas (espécie de pífaro) a cujo som dançavam damas e cavaleiros.
Por vezes, a voz áspera do truão cortava o silêncio que de vezes em quando se fazia o que invariavelmente provocava gritos e risadas estrondosas que os ecos devolviam. Mas a alegria chegara ao auge e sentia-se bem nitidamente que daí para a frente só poderia diminuir. O tédio, o cansaço, não tardaria a separar a lustrosa companhia, que parecia querer esquecer-se de tudo á sua volta, tanto no castelo como no burgo, anunciava as tristezas da guerra e os riscos das pelejas.
Em boa verdade, nos aposentos da bela infanta de Portugal, muitos dos ricos homens e infanções, falavam em grupos dos sucessos daquele tempo.
A infanta, magnificamente sentada na sua cadeira de espaldas, ouvia atentamente Fernando Peres que, curvado, lhe dirigia de vezes em quando, palavras breves e enérgicas. Uma almadraquexa tinha a honra de deter sentada e reclinada uma belíssima donzela que dava de vezes em quando umas risadas cristalinas, que pareciam entristecer o seu interlocutor, um jovem cavaleiro de pé, ao qual respondia no intervalo das mesmas respondendo, no intervalo das mesmas. Havia também colunas de pedra que se erguiam até ao teto e, junto de um delas, três personagens conversavam havia algum tempo. Alto e magro, trigueiro e calvo, aparentando uns quarenta anos de idade, era um deles, e trajava um saio negro, comprido e apertado na citura por uma faixa da mesma cor, vestuário próprio do clero do tempo. Um dos outros trajava uma cogula monástica, também negra, conforme preceituava o regulamento dos beneditinos. O terceiro personagem, o mais jovem daquele grupo de três,era um cavaleiro com os seus trinta anos de pele muito braca e cabelos anelados e loiros
Dos três grupos em que o leitor reparou,

domingo, 18 de julho de 2010

CAMÕES

01INTERPRETAÇÃO
CAMÕES: AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
LÍRICA



SOLUÇÃO

INTERPRETAÇÃO














OS LUSÍADAS
http://auladeportuguesdautibnaquintadatelha.blogspot.com/2009/11/indice-acentuacaoacentuacao-estancias.html

terça-feira, 15 de junho de 2010

AUTO DA BARCA DO INFERNO

ÍNDICE
ABI (01...): 01AUTO DA BARCA DO INFERNO <;> 05APLICAÇÕES-1 (RECAPITULAÇÃO) 06APLICAÇÕES-2 <;> 07APLICAÇÕES-3 (PREPARAÇÃO DO ARRAIS DO INFERNO) <;> 08APLICAÇÕES-4 (CENA 1-O FIDALGO-1., 2.) <:> 09APLICAÇÕES-5 (CENA 1-O FIDALGO-3., 4.) <;> 10APLICAÇÕES-5 (CENA 1-O FIDALGO-5.) <;> 11APLICAÇÕES-6 (CENA 1-O FIDALGO-7.) <;> 12APLICAÇÕES-6.1 (CENA 1-O FIDALGO-8.) <;> 13APLICAÇÕES-6.2 (CENA 1-O FIDALGO-9.) <;> 04Cena I: O FIDALGO <;> 02DEFINIÇÃO DE AUTO <:> 06EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO <;> 03 RESUMO <;>
ATENÇÃO: EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO
03LIT
01ABI
01AUTO DA BARCA DO INFERNO (v. tb ABI)











02ABI
DEFINIÇÃO DE AUTO


03ABI
RESUMO


Encontramo-nos junto a um rio com duas barcas e os respectivos arrais: um anjo na barca da glória e um diabo com um companheiro na barca do inferno. Vamos então assistir ao julgamento das pessoas citadas atrás.
04ABI
Cena I: O FIDALGO

Ao lermos o texto deparamo-nos com argumentos de acusação e de defesa. O Diabo actua como um delegado do Ministério Público acusando os réus e o Anjo também acusa, defende no entanto quando as circunstâncias o exigem. Quer, de facto, justiça.
O fidalgo faz-se acompanhar de um pajem que segura a cauda e de uma cadeira de espaldas, que não mais que alegorias que nos conduzem à representação mental do fidalgo na sociedade, dentro da classe que se insere.
O Diabo manifesta grande contentamento porque espera muitos condenados.
“DIABO
Oh, que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa. Verga alta! Âncora a pique! - Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?... Que cousa é esta?...”
Se atentarmos no nível da língua entre diabo e companheiro teremos de reconhecer que é baixo pois falam em calão
“COMPANHEIRO
Em boa hora! Feito, feito!
DIABO
Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta e alija aquela driça.”
Vejamos então os argumentos,
DIABO (acusação):

” FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.”


” FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namorado sandeu, o maior que nunca vi!...”

FIDALGO (defesa)

” DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...”
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai

ANJO (acusação):

“ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal que entre a minha senhoria...”
FIDALGO (defesa)

“ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca do Paraíso é esta em que navegais.
ANJO
Esta é; que demandais?”
“ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.”
O fidalgo, não tendo mais argumentos, decide-se a entrar na barca do Diabo

“DIABO
Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai: Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai, passeai e suspirai. Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente! Maldito quem em ti vai!”
Vejamos também as críticas de Gil Vicente:
CRÍTICAS À NOBREZA

“DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes, haveis de passar o rio.”

CRÍTICAS À RELIGÃO

“DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.”

CRÍTICAS À MULHER

DIABO
Assi vivas tu, amém, como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirando, se estava ela requebrando com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço, que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver, despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou, antre seus gritos e gritas, foi dar graças infinitas a quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant'a ela, bem chorou!

Somos ainda confrontados com o símbolo da cadeira quando o fidalgo tenta embarcá-la e o diabo não deixa

“Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO
Nom entras cá! Vai-te d'i! A cadeira é cá sobeja; cousa que esteve na igreja nom se há-de embarcar aqui. Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente, que queremos dar à vela! Chegar ela! Chegar ela! Muitos e de boamente! Oh! que barca tão valente!”
Atentemos na frase
“Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...”
É linguagem figurada, metafórica, que quer dizer que há-de (o fidalgo) sofre muito no inferno.

Leia agora o texto
________________________________________
Cena I
FIDALGO
Cada batel tem o seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro interlocutor é um Fidalgo que chega com um Pajem, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DIABO
À barca, à barca, houlá! que temos gentil maré! - Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO
Feito, feito! Bem está! Vai tu muitieramá, e atesa aquele palanco e despeja aquele banco, pera a gente que virá.
À barca, à barca, hu-u! Asinha, que se quer ir! Oh, que tempo de partir, louvores a Berzebu! - Ora, sus! que fazes tu? Despeja todo esse leito!
COMPANHEIRO
Em boa hora! Feito, feito!
DIABO
Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta e alija aquela driça.
COMPANHEIRO
Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!
DIABO
Oh, que caravela esta! Põe bandeiras, que é festa. Verga alta! Âncora a pique! - Ó poderoso dom Anrique, cá vindes vós?... Que cousa é esta?...
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO
Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida?
DIABO
Vai pera a ilha perdida, e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO
Pera lá vai a senhora?
DIABO
Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO
Parece-me isso cortiço...
DIABO
Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO
Porém, a que terra passais?
DIABO
Pera o inferno, senhor.
FIDALGO
Terra é bem sem-sabor.
DIABO
Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO
E passageiros achais pera tal habitação?
DIABO
Vejo-vos eu em feição pera ir ao nosso cais...
FIDALGO
Parece-te a ti assi!...
DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!.. Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai... que haveis de ir à derradeira! Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes! Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes, haveis de passar o rio.
FIDALGO
Não há aqui outro navio?
DIABO
Não, senhor, que este fretastes, e primeiro que expirastes me destes logo sinal.
FIDALGO
Que sinal foi esse tal?
DIABO
Do que vós vos contentastes.
FIDALGO
A estoutra barca me vou. Hou da barca! Para onde is? Ah, barqueiros! Não me ouvis? Respondei-me! Houlá! Hou!... (Pardeus, aviado estou! Cant'a isto é já pior...) Oue jericocins, salvanor! Cuidam cá que são eu grou?
ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca do Paraíso é esta em que navegais.
ANJO
Esta é; que demandais?
FIDALGO
Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal que entre a minha senhoria...
ANJO
Pera vossa fantesia mui estreita é esta barca.
FIDALGO
Pera senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio! Levai-me desta ribeira!
ANJO
Não vindes vós de maneira pera entrar neste navio. Essoutro vai mais vazio: a cadeira entrará e o rabo caberá e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso, vós e vossa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso. E porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-eis tanto menos quanto mais fostes fumoso.
DIABO
À barca, à barca, senhores! Oh! que maré tão de prata! Um ventozinho que mata e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano, a la mano me veniredes.
FIDALGO
Ao Inferno, todavia! Inferno há i pera mi? Oh triste! Enquanto vivi não cuidei que o i havia: Tive que era fantesia! Folgava ser adorado, confiei em meu estado e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos esta barca de tristura.
DIABO
Embarque vossa doçura, que cá nos entenderemos... Tomarês um par de remos, veremos como remais, e, chegando ao nosso cais, todos bem vos serviremos.
FIDALGO
Esperar-me-ês vós aqui, tornarei à outra vida ver minha dama querida que se quer matar por mi. Dia, Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namorado sandeu, o maior que nunca vi!...
FIDALGO
Como pod'rá isso ser, que m'escrevia mil dias?
DIABO
Quantas mentiras que lias, e tu... morto de prazer!...
FIDALGO
Pera que é escarnecer, quem nom havia mais no bem?
DIABO
Assi vivas tu, amém, como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirando, se estava ela requebrando com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço, que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver, despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou, antre seus gritos e gritas, foi dar graças infinitas a quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant'a ela, bem chorou!
DIABO
Nom há i choro de alegria?..
FIDALGO
E as lástimas que dezia?
DIABO
Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai: Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai, passeai e suspirai. Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente! Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO
Nom entras cá! Vai-te d'i! A cadeira é cá sobeja; cousa que esteve na igreja nom se há-de embarcar aqui. Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente, que queremos dar à vela! Chegar ela! Chegar ela! Muitos e de boamente! Oh! que barca tão valente!
Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:
05ABI
APLICAÇÕES-1


SOLUÇÃO


06ABI
APLICAÇÕES-2
EVOLUÇÃO FONÉTICA - CENA DO SAPATEIRO


SOLUÇÃO

07ABI
APLICAÇÕES-3

SOLUÇÃO


08ABI
APLICAÇÕES-4
CENA 1 - O FIDALGO
1.
2.

SOLUÇÃO

09ABI
APLICAÇÕES-5
CENA 1 - O FIDALGO
3.
4.

SOLUÇÃO

10ABI
APLICAÇÕES-6
CENA 1 - O FIDALGO
5.

SOLUÇÃO
alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5616230156042026482" />
11ABI
APLICAÇÕES-7
CENA 1 - O FIDALGO
6.

SOLUÇÃO

12ABI
APLICAÇÕES-8
CENA 1 - O FIDALGO
6.1

SOLUÇÃO

13ABI
APLICAÇÕES-8
CENA 1 - O FIDALGO
6.2


TEXTO INTEGRAL

http://www.sagradomarilia.com.br/arqdownloads/autodabarcadoinferno.pdf


VÍDEOS

http://video.google.pt/videosearch?source=ig&hl=pt-PT&rlz=1G1GGLQ_PT-PTPT348&q=AUTO+DA+BARCA+DO+INFERNO&lr=&oq=&um=1&ie=UTF-8&ei=-4aNS7eBAsOr4QbF4MSYDw&sa=X&oi=video_result_group&ct=title&resnum=9&ved=0CC0QqwQwCA#
http://www.youtube.com/watch?v=F1J_tkvV-
R8&feature=player_embedded

O ENFORCADO E OS 4 CAVALEIROS
CENA X - OS QUATRO CAVALEIROS